Confirma-se
dia a dia o alerta que a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa
Catarina (Faesc) fez em setembro sobre a escassez de milho no mercado interno
brasileiro em 2020, o que acarretará sérios prejuízos para as cadeias
produtivas de aves e suínos e para o parque agroindustrial.
A
insuficiência de milho será decorrência de fatores naturais (seca, queimadas,
atraso no plantio e redução de área cultivada) e econômicos (aumento das
exportações do grão em face da situação cambial favorável), analisa o
vice-presidente da FAESC Enori Barbieri, ex-secretário de Estado da Agricultura
e ex-presidente da CIDASC.
Ele
observa que o Brasil alcançou uma safra recorde de 101 milhões de toneladas. (O
país colheu cerca de 25 milhões de toneladas na safra e 76 milhões na
safrinha). Desse volume, 65 milhões de toneladas ficarão para consumo interno, o
restante será exportado.
"A
situação cambial estimula a venda externa e o País deve embarcar 40 milhões de
toneladas", destacou o dirigente. A exportação enxugará o mercado interno
e, portanto, o milho-grão ficará mais
escasso e mais caro. E tem outro detalhe: 5 milhões de toneladas serão
transformados em etanol de milho no centro oeste do Brasil, o que reduzirá
ainda mais a disponibilidade do grão no próximo ano.
Ficou
difícil segurar o produto no País com a cotação internacional e, por isso, a
fuga de grãos continua: o Brasil já exportou em 2019 o volume de 39 milhões de
toneladas. Somente Santa Catarina – região altamente deficitária em milho –
embarcou 335 mil toneladas este ano. Por outro lado, a seca que atinge o Paraná
atrasará em 30 dias a colheita e a safrinha somente será colhida em julho.
O
presidente da Faesc José Zeferino Pedrozo – que também é vice-presidente da Confederação Nacional da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – já levou o assunto a Brasília.
A
saída será ampliar as importações de milho da Argentina – que produz 50 milhões
de toneladas e tem baixo consumo interno. Além disso, deve prosperar a chamada Rota do Milho que ligará o oeste
catarinense com a região produtora do Paraguai. Esse país-membro do Mercosul
produz 5,5 milhões de tonelada, mas pode chegar a 15 milhões com o estímulo das
importações brasileiras, acredita a Faesc.
Barbieri assinalou que a redução no
plantio em Santa Catarina e no Brasil está claramente detectada pela Faesc.
"A situação será difícil em 2020 e já deve faltar milho no primeiro
semestre. O cenário é preocupante porque, da demanda total, 96% destinam-se à
nutrição animal, principalmente dos plantéis de aves e suínos."
VULNERABILIDADE
O
Brasil iniciará 2020 muito vulnerável, com estoques baixos e totalmente
dependente do clima. Como o preço de mercado nunca esteve inferior ao preço
mínimo, o Governo não se preocupou em fazer estoques. A saída será buscar milho
no mercado internacional. Nesse caso, agroindústria e produtores pagarão pelo
elevado custo de internação/interiorização do produto no país em razão das deficiências logísticas –
más condições das rodovias, ferrovias, portos e terminais.
A
preocupação da Faesc é coerente com a previsão para Santa Catarina que o Centro
de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa) divulgou. Ela
indica que o milho-grão total (primeira e segunda safras) vai enfrentar queda
de 1,07% na área plantada, de 3,16% do volume produzido e de 2,12% na
produtividade em relação à safra anterior. Essa é uma tendência nacional.
Em Santa Catarina, o déficit de
milho – que agora chegará a 4,5 milhões de toneladas/ano – é suprido pelas importações interestaduais de
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, além das importações da Argentina e
Paraguai. A soja é a principal concorrente em área com o milho no Estado. A
constante valorização do preço da soja e a forte oscilação nos preços do milho
estimularam a conversão das áreas de milho para o plantio da soja,
principalmente nas regiões oeste e meio-oeste. Desde 2012/2013 a área destinada
às lavouras de milho-grão reduziu-se em mais de 150 mil hectares. Por outro
lado, o crescimento da área cultivada para a produção de milho-silagem é outro
fator que reduz a oferta de milho-grão para a suinocultura e a avicultura.