Duas
profissionais da área da psicologia trabalham diariamente para atender a
demanda na comarca de Chapecó. Longe de sentar confortavelmente em frente a
divãs para ouvir e buscar o autoconhecimento de seus pacientes, as psicólogas
do Judiciário realizam, na verdade, procedimentos que avaliam a situação
psicológica dos envolvidos em relação ao processo judicial. Na maior comarca do
oeste de Santa Catarina, a concentração do trabalho das psicólogas Mara
Fernanda Córdova e Leila Luzia Pires está nas varas de família, infância e
juventude. Os processos de adoção que demandam envolvimento e diálogo com os
pretendentes a pais de crianças e adolescentes também contemplam a atuação
profissional.
O
setor de psicologia da comarca de Chapecó conta 97 processos judiciais que
aguardam neste momento a elaboração de laudos, pareceres ou relatórios, números
que têm se mantido nessa média nos últimos anos. As ações judiciais são
provenientes de duas varas de família, a 1ª Vara da Infância e Juventude e duas
varas criminais, prioritariamente. A comarca conta com a presença de
profissional de psicologia no quadro efetivo desde 2009. A partir de 2019,
passou a ter duas profissionais, já que as demandas eram crescentes para o
setor.
A
atuação profissional das psicólogas segue um padrão estadual de trabalho em
várias frentes. Nos processos judiciais são realizadas perícias psicológicas,
pareceres e avaliações em relação às pessoas envolvidas no processo, além de
encaminhamentos para outros profissionais. Os casos que envolvem guarda,
regulamentação de visitas e perda do poder familiar por violência contra
crianças ou adolescentes são os mais delicados. "Acionamos a rede de
atendimento, que adotará medidas de prevenção à violência, e orientamos essas
pessoas em relação à melhor condução daquilo que está sendo tratado naquela
ação judicial", aponta a psicóloga Mara.
Ela
explica que qualquer tipo de violência pode afetar a saúde mental, seja de quem
comete a violência, que já não estaria com a mente saudável, seja de quem for
vítima. "Avaliamos, entre outros aspectos, se a pessoa apresenta algum
transtorno mental que esteja afetando as questões relativas ao processo,
identificamos questões emocionais, relacionais e sofrimentos psicológicos que
podem estar na origem ou ser consequência da ação judicial", pontua.
Outra demanda recorrente são as
ações negatórias de paternidade, quando após muitos anos o autor descobre não
ser o pai biológico da criança ou adolescente. Na interpretação de Mara, isso
acarreta um acentuado prejuízo à saúde emocional de todos os envolvidos.
"A disputa judicial envolvendo uma criança prejudica a saúde mental de
todos os envolvidos, tanto os pais quando os filhos. O nosso trabalho consiste
em elaborar os laudos para indicar os prejuízos de determinadas atitudes para a
saúde emocional. Sugerimos psicoterapia ou orientação psicossocial para que as
pessoas possam buscar alternativas a fim de melhorar suas relações dentro das
disputas e dessa forma promover saúde mental", aponta Mara.